domingo, 8 de maio de 2016

tenha calma, coração
que ele e só mais um
E não demora, não
vem o tempo, varre ele
e tua alma floresce de novo
outra paixão

Vê se sossega
que ninguém aguenta assim
o peso de estar
a mercê do luar
ou dos olhos de alguém

te sustenta, enfim, sozinho
que de nada adianta, coração
 acumular angustias, passado,
terreno isolado, solo infértil não da flores, não
 espera, aguarda tranquilo
que o amor, quando vem
eh mais que abismo
e já vem com asas, com suspiro
e com alivio.







domingo, 1 de maio de 2016

De A a O.

Hoje já é domingo.
A partir de agora meus domingos serão só domingos,  não domingos com você.
Mas eu ainda lembro que foi nesse dia que nos vimos pela primeira vez.
Teu pequeno atraso - não me odeia! - Você repetia no telefone.
Quem dera, meu amor, eu te odiasse agora. Ah, se eu pudesse.
Mas estávamos lá, nos dois. Você me ofereceu café e o sorriso mais bonito da noite.
Eu te devolvi sorrindo com os olhos. E sorrimos bastante, juntos, a noite inteira. E acordei sorrindo, ainda, no dia seguinte.
Clarice escreveu algo sobre a fome da presença. Eu tive a impressão de sua fome. Senti que comi tua presença e você a minha, mas não era suficiente. Tua fome de mim era maior. Era urgente.
- Nao vai, fica. - Era como se dissesse que não era preciso me afastar muito pra que você já me quisesse mais perto. E eu quase não volto mesmo, se tivessem passados apenas alguns segundos mais...
Mas nos próximos precisaríamos de mais tempo, de um cálculo melhor. E precisaríamos comer naquele restaurante depois! E ver aquele show e conhecer aquele outro lugar e o próximos e os próximos...
E eu já sentia falta dos momentos que nunca chegaram a acontecer.
Desde então, te ouço ate nos meus cds. E te ouço cantando comigo, como naquele dia em que éramos só nós dois e uma musica de fundo. Como você conseguia fazer daquela expressão a coisa mais linda da qual um ser humano é capaz?Eu te poria numa moldura, clara e simples. E guardaria. E sorriria sempre que a olhasse, embora agora eu chore.
E ainda que eu apague todas as tuas imagens, essa é a que fica em mim. E basta que eu veja a primeira letra do seu nome para acessa-la. É quase uma senha interna, um código. Uma letra e lá está você, como se nunca tivesse sequer saído.
E qualquer palavra com você virava música. A música que compartilhávamos naquele seu jogo, nosso agora, assim como o búfalo e os Borges que você me lia todas as noites.
Me lia com aquela tua voz, de plosivas aspiradas, que vinha daquele teu inglês gostoso. Falado de forma tao bonita, com intervalos e piscadas entre eles.
Eu te asssistia, parada, boba sobre os seus lençóis. Eu nem sabia que ali era a ultima vez q te veria,embora talvez algo mim já ia te guardando aos poucos. Talvez por isso eu não quis ir embora. Por isso eu já cheguei descalço e fui me despindo aos poucos do que me era superfluo. Por isso me espalhei, me joguei e me fiz eu, cantando alto “o bêbado e a equilibrista”, na corda bamba de meu próprio sentimento.  Eu nem pensei na queda, eu só pensei na esperança, no show e em como era bom a gente poder ser a gente assim, com o outro.Tirei meus brincos, deixei um desenho no teu post-it e meu cheiro no travesseiro.
Os pêlos da tua barba ainda sobre mim, espalhados. “parece gato” eu disse. Sem me atentar às proporções que essa comparação tomaria dias depois.
Eu nem pude beijá-lo por ultimo. Apenas me despedi apressada e entrei no ônibus. E larguei tua mão, que ate então vinha grudada na minha.Tua mão q nem muito grande era, pra encaixar perfeitamente na minha.
E teus braços que me eram do formato perfeito. E teu cabelo, cortado recentemente, que ainda te caia nos olhos. Nesses teus olhos, nos quais eu me procurava desesperadamente, na tentativa de me guardar em você, da mesma forma como você me invadia, me conquistava e ia tomando conta de tudo e adentrando as camadas mais profundas da minha capacidade de sentir.
As escadas, enfim, escadas! Se cada degrau daquelas escadas infinitas pudessem ser um beijo nosso! Eu continuaria beijando teus olhos, calmamente, ate chegar à tua boca. E nosso percurso duraria anos, décadas, séculos afora, de escadarias e linhas de metrô.
Nossa lista de perguntas, meus pontos positivos e teus pontos, todos, absolutamente todos exatamente do jeito que eu pensei que deveria ser quando alguém viesse.
E você veio, pronto, com duas covinhas nas costas, com tua pintinha no braço que era gêmea da minha e no tom certo, tão afinando em mim que eu já tinha absoluta certeza que era lá. E fui sem nem olhar pros lados. Fui sem ver o caminho, que era  já pra não ter volta.
E fui te sentindo chegar, me expandir, me colorir. Me viver. E eu ia junto, que era pra não ficar pra traz.
Quando vi, você já estava nos lugares menos prováveis, você já estava mesmo quando não estava.
”Vou te mandar dancinhas todos os dias que é pra você ver.” Mas você nem estava mais aqui pra receber o meu carinho em forma de dança.
E eu te punha em tudo, te cuidava do jeito que achei certo, te regava, te abraçava e pedia em silêncio - Não vai, fica. - E era minha agora a fome.
A nossa cajuína nunca cantada, aquela comida estranha que a gente nem comeu, a tua memoria que no final nem era muito boa mesmo, os presentes que não puderam ser entregues, nosso forró que nunca dançamos, seu CD, meu guarda-chuva. Os ensinamentos futebolísticos de tua mãe, o café dela. As histórias da tua avó braba. O teu ‘s’ carioca. O salgado que não significava nem de longe o twiter daquele moço. A sua risada que mais parecia um soluço, mas que também era musica. Sua espontaneidade. Sua vida, sua presença. Você.
Tudo que está agora em mim, borbulhando, latejando e te implorando pra voltar.
Implorando ao menos por uma palavra, ou por algo que me faça sentir raiva.  
Um chute ainda maior do que esse. E que seja forte o suficiente pra me jogar pra fora desse quadro torto que eu pintei. Que eu vá parar do outro lado do planeta.
E dai você fica aqui, não vai junto.
Um chute que me diga que você não é o cara mais incrível que já conheci, ainda que o mais egoísta, insensível e covarde também. E que apesar de só você entender todas as minhas referências, os meus assuntos, as minhas sacadas, apesar de eu me sentir conectada a você como se já nos conhecessemos antes mesmo do início desse texto, que apesar de tudo isso você não é o cara certo.
Que não importa eu sentir que eu amaria cada traço teu incondicionalmente. E que eu te daria toda a minha poesia, plana e plena, de bandeja, se você apenas ficasse.
Eu queria apenas saber que há vida pós-vc. Que há amores pra eu viver ainda.
E que um dia, ah se Deus quiser um dia, eu conseguirei tomar café, ver chaves, ler um livro, ouvir uma musica em português ou inglês sozinha. Sem tua ausencia presente o tempo todo a martelar – falta algo, falta algo... E sem a sensação de que qualquer coisa, por pior que fosse, ainda seria melhor se você apenas estivesse aqui.



sexta-feira, 19 de julho de 2013

Há uma necessidade agora de humanidade, meu amor.
De uma coisa toda. Nada de restos e pedacinhos.
Nada de bem ou mal me quer.  Muito menos de esperar que haja sentimento.
Eu não direi nada a você sobre o que eu sinto e nem sobre os nossos
planos que você desconhece. Eu vou ficar calada, do jeito que sempre foi.
Porque eu aprendi que certas não vingam. E que o amor precisa de um solo muito fértil e amplo para poder crescer,  porque se não for assim, meu amor, a gente não aguenta, a gente não tem paz, a gente se perde muito fácil.
Eu agora preciso de gente, que ame, que sofra, que fale, que cante, que chore, que se machuque e que sobreviva. Eu agora tenho a necessidade de sentir algo completo, com respeito e sensibilidade(e que respeite a sensibilidade, principalmente.)

Agora não há mais necessidade de você e os restos que esqueceu em mim.
Nem que me escreva uma carta, e que cante algo que me encante.

Aquele filme do Woody e o trecho onde eu diria com muito mais palavras que o necessário que sentimento é esse, fica só comigo.

E aqueles ventos...
Aquilo é o nosso segredo.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Se fosse para te dizer algo, ainda....

Se fosse para ainda te dizer algo, eu diria que tudo que restou de nós dois ainda é mágoa pra mim.
Ah, por favor, vai.... Não torça esse bico e me julgue mal por isso. Não é porque quero e juro que, se já estivesse ao meu alcance, eu gostaria de você sem um único resquício dessa dor de quem de já apanhou.
Mas também não queira, meu bem, que eu não pense do jeito que penso. Porque eu penso que o meu sentimento tem muito de egoísmo e por isso mesmo eu sei o quão profundo ele me atinge. E que o seu sentimento foi vaidoso demais para o meu que foi egoísta demais.
Eu queria você me querendo. Era isso, egocêntrica, queria ser também o teu centro, confesso.
Mas você. Você nem isso quis. Você entrou em mim, sem nenhum receio, sem ponderações. Me sorriu e entrou em mim.
Vaidoso, vaidoso demais não pensou em como me sentia te hospedando. Era confortável. Era bonito o canto em que você podia ficar.
Mas eu. Eu queria lugar pra mim, também. Queria menos anseio de beijo e mais calor do abraço.
Queria que também me tivesse abrigado. Me deixado entrar em você enquanto aos poucos ocupava cômodos maiores em mim.
Egoísta, sim. Pois te deixei entrar por mim. Pra receber aconchego também, hálito quente.
Vaidoso, sim. Enquanto se olhava em meus espelhos, nem viu que eu precisava ter onde ficar.

É de meu egoísmo e sua vaidade a minha mágoa. Egoísmo de mulher que precisa sentir amor correndo nas veias dos dois, vaidade de homem que só quer uma morada, pra se ajeitar por um tempo, dar um trato no cabelo.
"Posso usar o seu banheiro?" .
De homem que nem sabe se vai ficar, mas não se importa com isso, que é o sentimento de posse de um egoísmo que ele denomina feminino demais.
Minha mágoa é de não ter sabido de antemão que as coisas seriam da mesma forma e de não ter percebido quando você mentia e me ofendia. Nem tenho certeza, mas... Não, tenho sim, eram mentiras. Afinal, mentira é mentira, até mesmo quando quem conta não a percebe.
Então eu menti junto, por ter aceitado a mentira que nenhum dos dois se deu ao trabalho de revelar.
Mas agora que diferença faz?
Tudo foi exatamente, exatamente o que seria por eu estar em mim e você em você.
Eu continuo igual, teria morrido ontem de saudade e hoje mesmo posso viver plenamente bem com você a mais de 50 km distante de mim.
Você continua igual, mais uma vez nem sabe que mentiu, se sabe, finge que foi de leve e, já que foi de leve... o que há de fazer?
Ah, que você não esteja sentindo nada, nada. E que esteja extremamente melhor assim.
Que eu seja assim mesmo, como antes, tão fácil de virar, o que qualquer outra seria, talvez até melhor do que eu fui.

E que, como antes, ah, que eu saiba disso e saiba também que eu poderia viver um milhão de ano e vidas sem que em nenhuma delas você seja mais que esse texto pra mim. E eu sei.
Ou eu também finjo, que finjo....

sábado, 29 de dezembro de 2012

De tanto a gente querer

E o jeito que ele tem de me encarar no fim é que dá vontade de partir.
Algo nele me pede para ir embora. Existe alguma coisa ali que só sobrevive enquanto estou longe, basta que eu toque, que eu chegue um pouco mais perto e ele murcha, descolore.
Eu não sei o que é que há. Mas a gente é capaz de coisas lindas enquanto não sabemos ainda o que somos.
E basta uma possibilidade, uma chance e puf! A gente esfria e congela tudo à nossa volta.
Ele me quer, eu também. Gostamos de querer. Ele me pede o que eu já pedi tantas outras vezes... E recuso.
Mas quando eu sou benevolente, ele rejeita.
 A gente não se encontra no mesmo querer. Eu estou sempre um passo à frente, mas é ele quem diz que eu não o alcanço.
Eu, ele. Mas a gente finge, que é para eu pirar de novo e ele voltar a ser pirado.
Eu o esqueço, como se já não o tivesse feito tantas e tantas vezes antes. Mas eu me lembro de novo e a gente se recorda junto.
Mas não é por querer, não. Ou melhor, é só por querer. Tudo isso é porque nos queremos muito. E não sabemos o que fazer com isso. Então ele fica aí, fingindo que não me vê.
E eu passo reto, fingindo sempre que eu não o vejo.

Uma hora eu apresso o passo, ele freia de vez.
Cada um pega uma esquina, a gente quer. Afinal, no fundo a gente sempre quer.